OPINIÃO DE UMA MÃE, ACADÊMICA DE LICENCIATURA E PROFESSORA, ALÉM DE EX ALUNA, SOBRE A ESCOLA BRASILEIRA

por Bruna Glacy - 21 de Agosto de 2023

Quando me perguntam por que não quero mandar meu filho pra escola, eu respondo que não tenho motivos para tal. E como de costume, segue-se um choque. As pessoas que me questionam, não conseguem supor que, na verdade, não existam motivos plausíveis para se mandar uma criança para a escola. E acrescento: é porque os índices educacionais das escolas brasileiras são péssimos. 

O Brasil, que é o 5º maior do mundo em população, tem uma das taxas mais baixas de escolarização na América Latina, ocupando o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados pelo PISA.

O analfabetismo funcional, por exemplo, de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação).

Portanto, deixam muito a desejar, porque fica claro, analisando os dados que estão disponíveis a todos, que as crianças não aprendem quase nada do que deveriam. Porque a escola claramente não ensina. E mais que isso, ainda faz pior. A escola nem ensina, nem motiva a aprender, principalmente quando olhamos para os dados do IBGE que indicam que cerca de 600 a 700 mil crianças, ainda estão fora das escolas. Provavelmente, a maioria destas, não está em um processo de homeschooling, portanto, estão sem acesso à educação formal. Os alunos não têm prazer nos estudos, eles não são motivados a estudar, a gostar de aprender, eles nem ao menos sabem como aprender, algo que foi demasiado debatido no século XX por pedagogos como Vigotski e Piaget, sem contudo, ter causado um efeito significativo nos resultados escolares a curto e longo prazo. Os alunos, há décadas, têm sido apenas repetidores de informações prontas, de fórmulas estáticas, vazias de significado prático, na maioria das vezes, doutrinados por professores que tampouco dominam seus conteúdos de formação, havendo dados que apontam para o fato de que mais da metade dos universitários, incluindo estudantes de áreas de licenciatura, são analfabetos funcionais. 

Fonte: https://media.gazetadopovo.com.br/2011/08/fd7ea76aa8908a9bf5e30653fd6dbad3-gpLarge.jpg

Desta feita, os alunos terminam a escola não sabendo praticamente nada do que deveriam saber, não se tornam leitores, não aprendem a ter gosto pela literatura, nem tampouco são estimulados a tal. 

A escola faz um péssimo trabalho no quesito estímulo e motivação, porque não oferece ao aluno, um ambiente aconchegante, confortável, minimamente seguro, para que ele possa estudar. Os discentes não se sentem atraídos pelos estudos e isso não é culpa simplesmente de suas personalidades rebeldes, mas da escola também. Daí, se discute a importância do uso de métodos corretos e eficazes no processo de ensino, que poderão ou não resultar em bons índices educacionais. Para tanto, recomendo a leitura de livros como A Mente Bem Treinada, de Susan Wise Bauer, e Ensinando o Trivium, de Harvey e Laurie Bluedorn. 

Se, com relação à escola, no começo da vida escolar, tudo é lúdico, colorido e feito para atrair, com o tempo a coisa muda de figura. Conforme os anos vão passando e o instinto de manada está mais arraigado em cada âmago, e cada criança não se reconhece mais como indivíduo, mas como parte, um pedaço muito pequeno e insignificante de um coletivo, não há mais razão alguma para tentar manter essa criança motivada ou apaixonada pelos estudos ou pela escola. E o desempenho dela é o que menos importa.

Os alunos retém informações suficientes apenas para passar nas provas, quando muito, alcançando notas estipuladas por uma cartilha distante de suas realidades, e que não confere aprendizado real e prático, mas retenção de conteúdos prontos, e neste caso também, entra a discussão sobre o método mais apropriado, que é bastante abordado nos livros já citados há pouco. 

Os estudantes, portanto, retém uma memória temporária dos assuntos vistos em sala de aula, com o intuito de serem aprovados pelos idealizadores de seu sistema de ensino, e depois de realizarem as provas, apagam da memória, quase que instantaneamente, tudo o que haviam retido. Por que isso acontece? Porque informações sem nexo, acumuladas repentinamente na cabeça, não servem para nada. 

A memorização é um processo válido na caminhada da aprendizagem e é recomendável que se memorize conteúdos, para que eles estejam ali sempre que forem solicitados pela memória, mas a memorização pura e simples, não se mantém viva no subconsciente, pois é vazia em si mesma. Veja bem, a memorização que não está profundamente ligada à apreensão dos significados dos códigos memorizados, não é aprendizado, nem tampouco serve a ele. Memorizar conteúdo sem que ele faça sentido no campo da lógica, é uma perda insana de tempo. 

O que ocorre na escola também, nessa imensa teia intrincada de erros e problemáticas, é que as matérias são engessadas, desconectadas da realidade, e não fazem o menor sentido nas mentes dos alunos. As matérias que compõem a cartilha escolar, são individuais, restritas a um campo de conhecimento que deveria ser vasto, natural e único. No entanto, o que vemos é que criaram um campo para cada área do conhecimento, sem uma devida conexão entre essas áreas, e sem que nenhuma delas faça sentido de acordo com a realidade prática, ainda que muitos pedagogos e teóricos da educação tenham se debruçado sobre a importância da interdisciplinaridade, que no dia a dia da escola, pouco acontece.


Tudo o que se pode aprender, deve estar ligado diretamente com atividades práticas do dia a dia, da convivência com os familiares e amigos, bem como das vivências em comunidades religiosas ou de outras ordens, que os alunos frequentem. Portanto, estudar uma matéria não deveria ser considerado como algo que precisa corresponder a uma agenda, mas como algo absolutamente natural, como parte da vida, da existência. 

Para estes fins, uma mãe serve perfeitamente melhor que qualquer professora indiferente que habita as salas de aula Brasil afora. A mãe que ensina confere significação ao que está ensinando, bem como atrela isso à própria existência da criança, trazendo para ela uma gama tão maior de sentido, que adquirir tais conhecimentos, será algo que faz parte do seu próprio ser e existir.


Logicamente, não defendo aqui nenhum método revolucionário de educação, como é a composição do método proposto por Paulo Freire, que é a chamada "pedagogia do oprimido", que busca, na realidade, somente inculcar na cabeça do discente, uma "consciência de classe", baseada no materialismo histórico e dialético, que por sua vez, é proveniente das ideologias de Karl Marx, "o pai do comunismo". Mas um método que faça sentido de acordo com a realidade do estudante, sem contudo, impedi-lo de enxergar além dessa sua realidade, mas conferindo significado concreto, prático e esteticamente belo, para todas as coisas, de modo que esta educação, e aí tem-se uma defesa pessoal minha, será o tipo de educação que aponta para Deus. 

Fonte: https://cefuria.redelivre.org.br/files/2015/10/Corte-de-pensamento.jpg

Não devemos, entretanto, ter qualquer visão diminuta, resumida ou mesmo romântica da educação, mas é preciso reconhecer que não há razões proveitosas para se mandar uma criança para a escola, e isso sem citar as doutrinações ideológicas constantes e diárias... Para aprofundamento deste assunto, recomendo os livros Quem Controla a Escola Governa o Mundo, de Gary de Mar, bem como Emburrecimento Programado, de John Taylor Gatto e Maquiavel Pedagogo, de Pascal Bernardin.

Não se deve tratar da educação como algo fácil e pequeno, porque é reconhecidamente algo complexo, que exige tempo, paciência e muita dedicação do mestre, mas não podemos ignorar também, que a escola não têm feito o mínimo.

Há muito que se discutir acerca deste assunto, é claro. Existem inúmeras teorias pedagógicas por aí, porém, creio sinceramente que nenhum especialista, nenhum professor ou educador, por maior que seja o seu currículo Lattes, tem melhor capacidade de saber o que é melhor para uma criança ou mesmo mais apropriado para a sua vida e para o seu desenvolvimento, do que sua própria mãe. Portanto, há de se refletir profundamente sobre este assunto e jamais deixar os pequenos a mercê de um sistema podre que só pretende angariar ainda mais soldados para a sua guerra silenciosa, mas magnanimamente destruidora.

Essa é, sem dúvida, a minha resposta a todos os que questionam as minhas decisões sobre a educação do meu filho, que considero como um caminho único, inteiro, não fragmentado, não dividido, não deturpado. 

Texto escrito por:

Bruna Glacy - Colunista do IMA